Dia Nacional da Luta da Pessoa com Deficiência (21/9): IFF/Fiocruz mantém relação próxima com associações civis
Escrito por: Rafael Paiva (IFF/Fiocruz), Edição por Everton Lima
(IFF/Fiocruz)
Criado: 20 setembro 2024
Mais que uma data, um grito por
inclusão e respeito. Celebrado em 21 de setembro, o Dia Nacional da Luta da
Pessoa com Deficiência (PcD) objetiva fortalecer os direitos das pessoas com
impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial
e promover a igualdade em um país tão diverso e desproporcional. A data foi
instituída por meio da Lei nº 11.133, de 14 de julho de 2005, avanços foram
conquistados desde então, mas ainda há um longo caminho a ser trilhado.
Nesse contexto, urge o
fortalecimento das associações de apoio, a valorização dos profissionais
envolvidos nos processos e a adoção de ações e políticas públicas que melhorem
a qualidade de vida das PcDs. O trabalho das associações é preponderante e merece
destaque, como frisa a assistente social, presidente da Associação Nacional de
Osteogênese Imperfeita (ANOI), Fátima Benincaza. Em parceria com Maria Clara
Migowski, presidente da Associação Carioca de Distrofia Muscular (ACADIM) e uma
das coordenadoras da Aliança Rara Rio (ARAR), Fátima ressalta a sinergia com o
Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes
Figueira (IFF/Fiocruz).
“O trabalho das associações com
o IFF/Fiocruz é marcado por uma sólida parceria construída ao longo de muitos
anos, baseada em respeito mútuo e cooperação. Minha atuação está diretamente
ligada a essas associações. Essas parcerias envolvem o compartilhamento de
conhecimento, orientação sobre práticas inclusivas e atualização constante
sobre políticas e legislações vigentes”, declara Fátima.
O IFF/Fiocruz faz do Dia
Nacional da Luta da Pessoa com Deficiência um lembrete de que a batalha é
diária por implementação de direitos. As pessoas com deficiência encaram
desigualdades em relação ao acesso à educação, ao trabalho, à renda, à saúde e
à assistência social.
Em 17/8/24, o IFF/Fiocruz marcou
presença em mais uma edição do “Fiocruz Pra Você”, a festa da vacinação, tendo
como um dos stands a Aliança Rara Rio (ARAR) | Foto: Day Cordeiro /
@duploclique021
Dados destacam desigualdades
O Brasil tem 18,6 milhões de pessoas
com deficiência, considerando a população com idade igual ou
superior a dois anos, segundo estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), com base na Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios
Contínua (PNAD) de 2022. Desse total, 10,7 milhões são mulheres, o que
representa 10% da população feminina no país. Quando o assunto é educação,
trabalho e rendimento, os dados mostram que as pessoas com deficiência ainda
estão muito menos inseridas nas escolas e no mercado de trabalho do que o
restante da população.
Enquanto 93,9% das crianças sem
deficiências de 6 a 14 anos frequentam o ensino fundamental, essa taxa é de
89,3% entre as crianças com deficiência na mesma faixa etária. Entre 11 e 14
anos, o número fica ainda menor: 71,3% das pessoas com deficiência frequentam o
ensino fundamental, contra 86,1% das pessoas sem deficiência.
Nesse sentido, Fátima e Maria
Clara assinalam que há evolução, mas o desafio é a efetivação plena dos
direitos. “Percebemos que hoje há maior conscientização por parte da sociedade
sobre os direitos das pessoas com deficiência, ajudando a combater o preconceito
e promovendo uma cultura mais inclusiva. Embora tenhamos muitas políticas
públicas garantidas por lei, ainda há muitos lugares que não cumprem as normas
de acessibilidade, incluindo edifícios públicos, transporte e áreas de lazer.
As escolas e universidades ainda precisam de mais recursos e treinamentos para
acolher estudantes com deficiência de forma adequada. Não só ao que se refere
ao corpo docente, mas a toda comunidade escolar. Faltam profissionais
capacitados para atender às necessidades específicas das pessoas com
deficiência, além de estruturas inadequadas em muitas unidades de saúde”.
Para a assistente social com
atuação no Centro de Referência para Tratamento em Fibrose Cística do
Instituto, Katty Anne Carvalho Marins, as barreiras de acessibilidade e
reconhecimento da condição de pessoa humana detentora de direitos ainda são as
principais. “Atento à superação e promoção de estratégias relacionadas às
barreiras atitudinais, o que implica em descontruir perspectivas que destinam
as pessoas com deficiência à marginalidade nas relações sociais e ao não
reconhecimento na sociedade da dignidade humana, as distanciando da esfera do
direito e as referenciando à abordagem capacitista nas práticas sociais
cotidianas, destituindo, assim, da condição de sujeito social ativo em suas
demandas e necessidades. Portanto, urge o desenvolver atitudes e comportamentos
cotidianos nas diferentes esferas da vida privada e pública que reflitam em
práticas sociais de fato anticapacitista, a fim de potencializar o pleno
desenvolvimento e participação da pessoa com deficiência na sociedade”.
Atuação do Instituto e relação próxima com
associações civis
Katty Anne representa o
Instituto no Comitê Estadual de Defesa dos Direitos
Humanos das Pessoas Com Doenças Raras do Estado do Rio de Janeiro (CEDDHPDR/RJ),
ao lado da professora e pesquisadora do IFF/Fiocruz, Martha Moreira. Uma das
marcas do Instituto é a relação próxima com associações civis que lutam por
direitos nesse cenário de saúde pública. Além de se produzir atenção e formação
de profissionais, o IFF/Fiocruz produz também um engajamento cívico através das
pesquisas e dessa representação.
“Temos o Núcleo de Equidade,
Diversidade e Políticas Afirmativas que colabora com a execução de processos
para garantir o acesso de estudantes com deficiência nos processos seletivos.
Nosso desafio hoje é desenvolver ações para permanência destes estudantes com
mudança da cultura e olhar institucional sobre a deficiência. Dedicamos a
apoiar revisão de editais, organização de bancas para políticas afirmativas,
oferecer educação permanente para os trabalhadores do Núcleo e comunidade
IFF/Fiocruz. Mas, hoje, entendemos a importância de capilarizar ações no
cotidiano, nas conversas em colegiados e espaços institucionais, onde
expressões de capacitismo possam se configurar e que, portanto, precisam ser
enfrentadas. No campo das condições de saúde raras e complexas, o IFF/Fiocruz
tem representação no Comitê Estadual de Direitos Humanos das Pessoas com
Doenças Raras, contribuindo com políticas neste campo”.
Martha Moreira ressalta que a
inclusão das pessoas com deficiência nos espaços públicos e instituições é
necessária no sentido de transformar a sociedade em que vivemos. “No que diz
respeito às ações afirmativas, é importante incrementar o acesso por meio dos
concursos e seleções públicas, sem ignorar a importância da permanência de
estudantes e ascensão de trabalhadores com deficiência em cargos de direção. A
presença das pessoas com deficiência nos espaços públicos e instituições é uma
potente estratégia para a transformação da cultura em prol da inclusão de fato
e de direito. As pessoas com deficiência devem ocupar os espaços públicos e
esta ocupação será transformadora da cultura”.
IFF/Fiocruz é uma das entidades habilitadas para compor o Fórum de representantes da sociedade civil, biênio 2023/2025, em Comitê Estadual do RJ
Atenção especial às famílias
Além do tratamento
multidisciplinar e multiprofissional, o IFF/Fiocruz possui atenção especial às
famílias, pois essas são parte fundamental e integrada do tratamento realizado,
conforme comenta a responsável técnica do Serviço Social do Instituto, Alessandra
Gomes Mendes. “Penso que nosso papel, quando realizamos pesquisa, é fortalecer
a luta dessas famílias (mulheres) pela saúde e os direitos de seus filhos. O
conhecimento deve ser construído junto e deve estar a serviço das famílias. Ele
deve ser produzido para impactar a vida, ajudar a torná-la melhor para todos.
Por outro lado, são as famílias quem melhor conhecem sua própria realidade e
sua luta cotidiana por políticas públicas. Esse saber precisa ser valorizado o
máximo possível”.
Inclusão social e cidadania
O marco normativo brasileiro é o
ponto de partida para a instituição dessas políticas públicas voltadas para o
bem-estar da pessoa com deficiência, principalmente no que tange à isonomia nas
relações. Tendo a Constituição Federal de 1988 como pano de fundo, a
promulgação do Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei 13246/15) foi um
importante paradigma que assegura e promove exercício dos direitos e das
liberdades fundamentais para pessoa com deficiência, visando à sua inclusão
social e cidadania.
Além disso, o Plano Nacional dos
Direitos das Pessoas com Deficiência — “Novo Viver sem Limite” é uma iniciativa
do Governo Federal, por meio do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania
(MDHC), para garantir mais dignidade às pessoas com deficiência, suas famílias
e comunidades em todo território nacional. O programa é coordenado pela
Secretaria Nacional dos Direitos das Pessoas com Deficiência (SNDPD).
Mais que uma data no calendário,
o Dia Nacional da Luta da Pessoa com Deficiência é um convite ao debate que
visa eliminar barreiras, sejam elas arquitetônicas, sociais ou mesmo
comportamentais que limitam ou impedem o pleno exercício de direitos. Mais do
que a luta por igualdade, as PcDs buscam a isonomia nas relações, uma vez que
se faz necessário uma adequação às particularidades de cada deficiência para
melhor efetivação dos direitos fundamentais que todas precisam para viver
melhor.
Fonte: https://www.iff.fiocruz.br/index.php/pt/?view=article&id=1755%3Adia-nacional-da-luta-da-pessoa-com-deficiencia-21-9-iff-fiocruz-mantem-relacao-proxima-com-associacoes-civis&catid=8&fbclid=IwY2xjawFadGNleHRuA2FlbQIxMQABHZ0T5PO33uMN5EcPvPNcGRIfU0orqaDKwI_Yj84eZQPh5BTxNxHMr9FGhg_aem_0EgbdEMEnhIa2T9wgN2hFg
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