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Hastes ortopédicas, das adaptadas na FCM às concebidas na FEM

Written By Fatima Santos on terça-feira, 15 de setembro de 2015 | 10:48

Hastes ortopédicas, das adaptadas

na FCM às concebidas na FEM

Garantindo a firmeza e o crescimento de ossos

                                                                                                                                         CARMO GALLO NETTO
O médico William Dias Belangero mostra haste (abaixo) usada nos procedimentos cirúrgicos: resultados revelam grande sobrevida de implantes (Foto: Antoninho Perri)
Em medicina, o termo os­teo­gênese refere-se à formação e ao desenvolvimento do tecido ósseo. A expressão osteogênese imperfeita designa apropriadamente imperfeições verificadas na formação óssea. Nomeia uma doença congênita, que, embora inata, pode ter caráter hereditário ou não e que resulta de deficiência metabólica que leva à má formação ou deficiência do colágeno tipo 1, responsável pela resistência óssea.

Os indivíduos cujos organismos não conseguem produzir adequadamente esse tipo de colágeno, ou seja, o fazem defeituoso ou em quantidade não suficiente, sofrem deformações ósseas principalmente nos membros inferiores, que sustentam o corpo. O colágeno, proteína mais abundante do organismo humano, é essencial para a formação do esqueleto. Ela tem o mesmo papel da ferragem em uma construção. Imagine-se um prédio com uma estrutura de concreto sem ferro, ou com ferro fino ou defeituoso. Quebra pela ação do próprio peso. Esse é o problema dos portadores da osteogênese imperfeita. Seus ossos, desprovidos de uma estrutura de sustentação mais sólida, entortam e depois quebram.

O médico William Dias Belangero, do Departamento de Ortopedia da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, introduziu inovações em hastes metálicas, extensíveis e de colocação intramedular que garantem a firmeza dos ossos e possibilitam o seu crescimento, minimizando significativamente problemas que as antigas hastes criadas na década de 50 causavam aos pacientes e que, por isso, tiveram seu uso proibido.

O professor explica que a osteogênese imperfeita é uma doença sistêmica e que, portanto, envolve todos os ossos do organismo. Claro que aqueles submetidos a maior esforço são mais afetados e, por isso, os ossos dos membros inferiores sofrem mais do que os dos membros superiores.

Por outro lado, possuindo menos resistência, os ossos vão se deformando em parte pela ação dos músculos, pois a própria contração muscular os deforma porque durante o crescimento os ossos têm a função de esticar a pele, os músculos e os tendões para que cresçam juntos. Como o osso doente não tem a resistência necessária, os músculos e os tendões acabam por vezes deformando-o. Na osteogênese imperfeita, diz o médico, existem deformações bem clássicas decorrentes da ação apenas dos músculos.

A osteogênese imperfeita é classificada em tipos. Em um dos casos graves, lembra Belangero, as crianças ficam mais baixas e apresentam deformidades de face, de tronco, de membros e, apesar disso, exibem um coeficiente de inteligência muito bom. “Deve ser feito o máximo possível para tratá-las, pois essas deformações vão se agravando à medida que a criança cresce”, afirma.

O tratamento

Belangero esclarece que hoje existem duas linhas de tratamento para controlar a doença. A medicamentosa utiliza os chamados bifosfonados, principalmente o pamidronato, ministrado por via endovenosa, que reduz a dor, o número de fraturas e aumenta a resistência óssea, o que leva a criança a um desenvolvimento muito maior do que tinha antes. O tratamento com medicamento ameniza o so­frimento do paciente muito pequeno, quando não há ainda condições de realizar a cirurgia, porque existe um limite mínimo a ser observado no seu desenvolvimento para colocação da haste dentro do osso, que constitui a segunda alternativa.

Ele constata que a partir do momento que se torna possível a utilização da haste é conveniente implantá-la porque as deformidades indicam encurvamento dos ossos e, à medida que a criança se movimenta, a tendência do encurvamento é aumentar progressivamente, tornando-os mais suscetíveis à fratura. Nesse caso se recorre ao procedimento cirúrgico e à fixação das hastes telescópicas para que o paciente tenha uma vida mais próxima da normalidade.

Os progressos

Haste usada nos procedimentos cirúrgicos: resultados revelam grande sobrevida de implantes (Foto: Divulgação)Estimulado pelo professor Gottfried Koberle, William Dias Belangero começou a trabalhar com implantação de hastes telescópicas no enfrentamento da osteogênese imperfeita na década de 80, época em que a Faculdade de Ciências Médicas funcionava ainda na Santa Casa de Misericórdia de Campinas. Ele conta que o professor começou a tratar as crianças utilizando a técnica de Bailey Dubow, pioneiros no invento e utilização das hastes telescópicas extensíveis, em meados da década de 50. A haste era constituída de duas partes que deslizam uma dentro da outra, a exemplo do êmbolo em uma seringa, por isso extensíveis, e afixadas por parafusos pelas extremidades que a prendiam na parte superior e inferior do osso, caso do fêmur, por exemplo.

À medida que o osso crescia, a haste destelescopava, ou seja, corria no canal. Mas passou-se a observar em um número grande de casos que o crescimento do osso levava a haste a se desprender de um dos pontos de fixação e a migrar, deslizar, para dentro dele e com isso não ocorria a proteção quanto às deformidades ou fraturas. Nesses casos, havia inclusive o perigo de lesão na placa de crescimento do osso, o que o levaria a parar de crescer. Como as complicações relatadas chegavam a 60% dos casos, o modelo não foi mais utilizado.

Foi aí que ele teve a idéia de introduzir nas hastes ganchos nas duas extremidades, substituindo os parafusos de fixação. Apesar de simples, esta modificação mudou completamente a história da sua utilização, porque, diz ele, “agora, ao colocar as hastes, os ganchos das extremidades são ancorados sobre as cartilagens articulares que apresentam maior resistência que o próprio osso, impedindo a migração da haste para o interior dele”. O implante se fixa nas epífises dos ossos, ou seja, nas extremidades dos ossos longos, fundamentalmente fêmur e tíbia. Ele já utilizou o procedimento no úmero, que é o osso do braço, embora os ossos dos membros superiores não sejam os mais afetados, pois não suportam peso.

Belangero foi o pioneiro na utilização de ganchos, pois as modificações anteriormente introduzidas por outros grupos do exterior utilizaram ainda modificações no sistema de parafusos. As inovações introduzidas por ele, em 1990, estão completando 19 anos. Em 1999 ele fez a primeira reavaliação dos seus pacientes e em 2004 fez nova avaliação completa de todos eles, do que se originou a publicação de 2006 em que trata do “Desempenho da Himex - haste intramedular extensível ancorada por ganchos na osteogênese imperfeita”, estudo apresentado na FCM da Unicamp como parte das exigências para obtenção do título de professor livre-docente. O trabalho que vem desenvolvendo tem sido apresentado em eventos nacionais e internacionais e recentemente foi encaminhado para publicação em revistas nacional e internacional, pois acredita que tenha se cumprido o tempo de acompanhamento que um trabalho desse tipo exige.

“Hoje não tenho nenhuma dúvida: estou completamente convencido de que a haste funciona. Claro que durante um certo período todos nos tínhamos incertezas, porque nos perguntávamos se uma modificação tão simples produziria os efeitos e resultados esperados. Hoje essas dúvidas se dissiparam”, constata o professor, entusiasmado.

Os resultados obtidos por Belangero revelam uma grande sobrevida dos implantes, pois cerca de 80% deles não tinham sido retirados após 108 meses de acompanhamento, o que equivale a nove anos. A taxa de complicações ou migrações foi muito baixa, cerca respectivamente, de 18% e 12%, enquanto a literatura mostrava que na utilização da haste antiga as complicações chegavam a atingir 60% dos casos.

Embora tenha requerido patente ele não se interessa por ela, pois no seu entendimento o mais importante é que o implante funcione e revele-se mais eficiente dos que se dispõe ou se dispunham no mercado. Ele vê com certa tristeza e preocupação o fato de o implante não estar cadastrado no Sistema Único de Saúde (SUS), pois se isso ocorresse poderia ser utilizado amplamente pelos ortopedistas pediátricos, porque hoje a utilização não é generalizada e se dá apenas por ele e por alguns colegas com os quais mantêm contato. Embora não saiba explicar o que impede que o SUS cadastre o implante, tem esperanças que isso não demore a ocorrer.
 

  Jornal da Unicamp - Universidade Estadual de Campinas / ASCOM - Assessoria de Comunicação e Imprensa 
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